sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Consumo e sustentabilidade
O conceito de sustentabilidade deve transcender as ações isoladas. Trata-se de repensar a condição do homem como parte de um sistema maior.
Ou seja, ao ser habitante do planeta, precisa pensar em sua conservação e ao não o ser sozinho, precisa repensar em suas relações com os outros. Sendo assim, é necessário pensar de maneira holística, dentro dos âmbitos social, político, econômico e ambiental.
O padrão de consumo capitalista é totalmente contrário à lógica sustentável. No modelo atual, as relações sociais são destruídas, pois o sistema capitalista depende de uma dinâmica social especifica. A forma de produção é totalmente irresponsável do ponto de vista ambiental e econômico, além de agredir as relações psicológicas e existenciais dos indivíduos.
O capitalismo tem em suas bases uma série de aliados que o fizeram triunfar como modelo dominante. Entre estes pilares de sustentação está o desenvolvimento tecnológico, que dá subsídios para a criação dos mais diversos e impensáveis produtos. Estes produtos não são criados por acaso, eles têm o objetivo de manter a máquina ligada, de dar ao capitalismo condições de criar necessidades e anseios variados nos consumidores. A mídia como vitrine dos mais variados padrões de vida, estampados nas vidas das celebridades e personalidades públicas.
Existe ainda o discurso da globalização, que visa criar uma aldeia global, sem fronteiras e sem barreiras para o consumo, ou seja, as raízes capitalistas rompendo as barreiras culturais, de tempo e de espaço. Um exemplo disso está na China, país essencialmente naturalista, que com a abertura das fronteiras recebeu muitos restaurantes fast-food e vive hoje um problema alarmante: o sedentarismo. Pesquisas mostram que ela já possui 200 milhões de pessoas acima do peso, 97% a mais do que há 12 anos. Ou até mesmo nos Emirados Árabes, que vivem hoje uma crise demográfica em que mais de 80% da população é estrangeira, responsável pela mão de obra qualificada e pelo desenvolvimento dos últimos anos.
A oferta de uma felicidade baseada no ter é que faz do capitalismo o ideal para a maior parte dos individuos, pois aqueles que estão desfrutando de uma posição favorável são incentivados a manter um discurso individualista e de ostentação, enquanto que os “excluidos” são parte importante do sistema, na sua eterna busca de “mudar de vida” e por representar o medo para uma elite que não quer estar em seu lugar.
A intenção do discurso sustentável não é erradicar o consumo, mas toná-lo algo saudável como todas as práticas da vida humana devem ser. O consumo é essencial para a sobrevivência do ser humano, é importante consumir água, energia, alimentos, roupa, lazer, cultura, etc... Mas, segundo o Instituto Akatu (conheça link: http://www.akatu.org.br/), a reflexão deve estar no como consumir .
Além disso, o padrão de felicidade criado por toda essa maquina, baseado no ter para ser, agride as relações psicológicas dos indivíduos. A criação de desejos e as mentiras nas promessas de satisfação geram ciclos cada vez mais complexos de demandas. Sob a ótica psicanalítica, ao conhecer sua falta existencial, o indivíduo passa a entendê-la e conviver com ela, sendo mais responsável nas suas escolhas e ciente de si.
Enfim, a única maneira de viver dentro deste sistema é tornar-se consciente de suas reais necessidades e de que nenhum produto criado pelo capitalismo pode suprir demandas que vão além das necessidades básicas e físicas do ser humano, ou seja, nenhum material pode satisfazer questões existenciais e inconscientes. Essa linha de raciocínio vai ao encontro da visão do Instituto Akatu para um consumo sustentável, que foi batizada de 4rs. O primeiro é o Repensar - Repensar-se como ser humano e no ato de consumo, conhecer-se - Essa reflexão leva naturalmente ao 2° R: Reduzir, porque não se precisa de tudo o que está se consumindo; Reutilizar, pois algumas coisas podem ser utilizadas continuamente, sem precisar comprar de novo; e reciclar, dado os enormes impactos que a reciclagem tem sobre a sociedade e o meio ambiente .
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