NO PÂNTANO DA DÚVIDA

Pode um cristão genuíno ser assolado pelas trevas da dúvida e da incredulidade? Pode existir um período de ausência de luz na alma cristã? Pode o homem ou mulher de Deus atolar no pântano do desespero e da dúvida?


O que é a dúvida?


É a incerteza em que se está sobre a realidade de um fato, sobre a verdade de uma asserção; hesitação, suspeita; objeção; dificuldade em crer, incredulidade; ceticismo; escrúpulo. Atitude intelectual específica que a pessoa adota diante de uma proposição. Incerteza no tocante à veracidade ou falsidade da proposição (proposta, oferecimento; aquilo que se apresenta para chegar a uma conclusão; teorema).

Uma coisa é duvidar da existência de Deus (pessoa): “Deus existe?”. Outra é duvidar da fidedignidade de Deus (proposição), desconfiar de Deus (questão de confiança). Essa parece ser a dúvida mais comum entre os cristãos. Jesus queria que seus discípulos confiassem em Deus e se entregassem aos seus cuidados. “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim”. Jo 14.1


Os vários tipos de dúvida


Há vários tipos de dúvida. A maioria delas é negativa e perigosa. Somente uma delas parece ser menos nociva e até mesmo necessária, em alguns casos.

Dúvida filosófica

Pode ser dividida em dois tipos:

1. Dúvida definitiva (cética) O cético – o descrente, que duvida de tudo - duvida porque pensa que não há respostas e que elas não poderiam existir. O cético diz que não há evidências. “Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus”.Sl 10:4

2. Dúvida Provisória Método de Descartes – lança dúvidas com a finalidade de chegar a uma conclusão mais fidedigna). É a dúvida com vistas ao aprendizado. Essa é a dúvida isenta de afronta que, no fundo, deseja que o fato, alvo da dúvida, seja verdade.

A dúvida de Tomé

Parece não ser pecaminosa visto que não há repreensão nem arrependimento. Bastou que se constatasse a veracidade do fato – Jesus apresentar-se vivo – que a dúvida foi sanada e a devoção renovada. “E, oito dias depois, estavam outra vez os seus discípulos dentro, e, com eles, Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco! Depois, disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente. Tomé respondeu e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram!”. Jo 20.26-29

A dúvida de Jó

Todo o questionamento de Jó e seus amigos buscava descobrir a razão de toda sua desgraça. Após Deus falar com ele – sem lhe responder especificamente

sua questão – Jó sentiu-se plenamente satisfeito. Aprendemos duas coisas: primeiro, nem sempre teremos todas as nossas dúvidas respondidas, segundo, a presença de Deus satisfaz mais do que conhecer as razões das coisas.

A dúvida de João Batista

No cárcere e, provavelmente, no pântano da dúvida, João Batista pede a Jesus confirmação de sua identidade. Jesus apresenta suas obras em cumprimento da Palavra profética: “És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro? E Jesus, respondendo, disse-lhe: Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho”. Mt 11.3-5


Dúvida equivalente à negação


Essas dúvidas têm o sentido de negações veladas; ele diz não na presença de evidências. A serpente negou diante da evidência da vontade de Deus: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”. Gn 3.1

O rico negou diante da evidência de que Abraão é que estava com a razão: “E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, Abraão, meu pai; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”. Lc 16.27-31

Os fariseus negaram as evidências presentes – recusaram-se a crer - e pediram um sinal exclusivo para eles. Jesus entendeu seu pedido como recusa, os repreendeu e se recusou a dar outro sinal: “Então, alguns dos escribas e dos fariseus tomaram a palavra, dizendo: Mestre, quiséramos ver da tua parte algum sinal. Mas ele lhes respondeu e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém não se lhe dará outro sinal, senão o do profeta Jonas, pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra”. Mt 12.38-40


Dúvida ignorante


É a dúvida que busca evidências diante das próprias evidências. A pessoa tem todas as evidências para crer, mas ainda duvida, porque pensa que há alguma explicação adicional que solucionará todas as dúvidas. Dúvida sem base racional. É ignorante porque procura algo adicional sem saber o que.


O fato e o perigo da dúvida


As dúvidas sempre estarão presentes. A Bíblia nos trouxe a revelação necessária para que voltemos a Deus através do resgate operado por Jesus Cristo, mas ela não nos responde todos os questionamentos em todas as áreas da existência: “As coisas encobertas são para o SENHOR, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para cumprirmos todas as palavras desta lei”. Dt 29.29. Temos, no entanto, a promessa de que um dia conheceremos a Deus e suas obras plenamente: “Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido”. 1Co 13:12.


A dúvida tem sua raiz no pecado


Como você pôde perceber, dentre os tipos de dúvida listados acima, somente a dúvida filosófica provisória é a menos nociva, pois se dissolve diante de evidências. Porém, também é obra do Espírito convencer o mundo do pecado... “porque não crêem em mim”, disse Jesus, Jo 16.9.


A dúvida impede a recepção das bênçãos de Deus


“Peça-a, porém, com fé, não duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa. O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos”. Tg 1:6-8


A dúvida pode ser o início do afastamento de Deus


“Mas quero lembrar-vos, como a quem já uma vez soube isto, que, havendo o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu, depois, os que não creram”. Jd 5

“Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo”. Hb 3.12 (RA)

“E ele lhes disse: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!”. Lc 24.25


Os elementos da dúvida na alma Racional ou intelectual


A dúvida pode se concentrar na área da razão. Neste caso a ausência ou presença de evidências é que determinariam a solução ao problema da dúvida, muito embora se possa duvidar diante das evidências.

Emocional

A dúvida pode se instalar no âmbito dos sentimentos. A pessoa pode conhecer a verdade, mas não sentir-se bem com o efeito que a verdade tem sobre si, a ponto de ainda recusar-se a crer.

Volitivo

Por fim, a dúvida pode alimentar uma decisão da vontade. A verdade, após ser compreendida, pode solicitar mudança no modo de vida. Não disposta, a pessoa passa a recusar a entrega, questionando a verdade.


Como vencer a dúvida e a incredulidade


Confesse-as diante de Deus

“E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim”. Jo 16.8,9.


Reconheça que existe dúvida no seu coração e peça ajuda em oração (espírito)

“E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade”. Mc 9.24


Busque a verdade dos fatos na Palavra (intelecto)

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. João 8.32

“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. Rm 10.17


Tenha coragem

“E disse-lhes: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?”. Mc 4. 40


Não confie nas suas emoções

“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos. Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos; o qual nos livrou de tão grande morte e livrará; em quem esperamos que também nos livrará ainda, ajudando-nos também vós, com orações por nós, para que, pela mercê que por muitas pessoas nos foi feita, por muitas também sejam dadas graças a nosso respeito”. 2Co 1.8-11


Decida crer de acordo com a Palavra (atitude de fé – vontade)

“Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito”. Mc 11:23

“Porque andamos por fé e não por vista”. 2Co 5.7


Espere pela libertação do Senhor

“Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei. Ele é a salvação da minha face e Deus meu”. Sl 43:5

“Pereceria sem dúvida, se não cresse que veria os bens do SENHOR na terra dos viventes”. Sl 27:13


Mesmo no pântano, você não está só

Quer seja num pântano de dúvidas ou numa fornalha, o que importa é quem está conosco ali. O que importa não é a profundidade do pântano, mas quem nos segura a mão. Jesus prometeu a sua presença. Ela nos basta. “eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”, Mt 28.20.